A gente começa o ano como quem começa a ler um romance cujo enredo nos interessa muito por ser a história da nossa própria vida.
quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
1º de Janeiro
A gente começa o ano como quem começa a ler um romance cujo enredo nos interessa muito por ser a história da nossa própria vida.
sábado, 26 de dezembro de 2009
MAGIAS
Conheço uma cidade azul.
Conheço uma cidade cor de ferrugem.
Na primeira, há helicópteros pairando...
Na segunda, espiam de seus esconderijos os olhos das ratazanas.
No entanto
é a mesma cidade
e,
onde a gente estiver,
será sempre uma alma extraviada em labirintos escusos
ou, então,
uma alma perdida de amor...
Sim! Por ser habitado por almas
é que esse nosso mundo é um mundo mágico...
onde cada coisa – a cada passo que se der
vai mudando de aspecto...
de forma
de cor...
Vai mudando de alma!
Mario Quintana
PREGUIÇA
Certa vez abalancei-me a um trabalho intitulado “Preguiça”. Constava do título e duas belas colunas em branco, com a minha assinatura no fim. Infelizmente não foi aceito pelo supercilioso coordenador da página literária.
Já viram desconfiança igual?
Censurar uma página em branco é o cúmulo da censura.
(Caderno H)
segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
Estufa
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
Astrologia
Este poema foi musicado por Lui Coimbra, e está no seu CD "Ouro e Sol".
Vale a pena ouvir.
A foto - Visconde de Mauá - RJ/MG
sexta-feira, 6 de novembro de 2009
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
Canção do dia de sempre
Tão bom viver dia a dia...
A vida, assim, jamais cansa...
Viver tão só de momentos
Como essas nuvens do céu...
E só ganhar, toda a vida,
Inexperiência... esperança...
E a rosa louca dos ventos
Presa à copa do chapéu.
Nunca dês um nome a um rio:
Sempre é outro rio a passar.
Nada jamais continua,
Tudo vai recomeçar!....
E sem nenhuma lembrança
Das outras vezes perdidas,
Atiro a rosa do sonho
Nas tuas mãos distraídas...
Mario Quintana
Alma Errada
Há coisas que a minha alma, já tão mortificada, não admite:
assistir novelas de TV
ouvir música POP
um filme apenas de corridas de automóvel
uma corrida de automóvel num filme
um livro de páginas ligadas
porque, sendo bom, a gente abre sofregamente a dedo:
espátulas não há... e quem é que hoje faz questão de virgindades...
E quando minha alma estraçalhada a todo instante pelos telefones
fugir desesperada
me deixarás aqui,
ouvindo o que todos ouvem, bebendo o que todos bebem,
comendo o que todos comem.
A estes, a falta de alma não incomoda. (Desconfio até que minha pobre alma
fora destinada ao habitante de outro mundo).
E ligarei o rádio a todo volume,
Gritarei como um possesso nas partidas de futebol,
Seguirei, irresistivelmente, o desfilar das grandes paradas do Exército.
E apenas sentirei, uma vez que outra,
a vaga nostalgia de não sei que mundo perdido...
Mario Quintana
Ah! É?
sábado, 26 de setembro de 2009
Alguns trechos de entrevistas com Mario Quintana.
Cristina Serra: Por que você gosta tanto de escrever à noite?
Quintana: Sou um lobisomem da poesia. Escrevo de meia-noite em diante, até às três ou quatro horas. Às vezes, a poesia vem nas ocasiões mais impróprias e eu tomo nota do relâmpago num papelzinho; outras vezes, me esqueço pelo caminho. Se eu não esqueço, escrevo à noite, no silêncio. À noite, a gente só é visitado por fantasmas e eles são silenciosos...
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Patrícia Bins: O futuro, como o imaginas?
Quintana: O futuro é uma espécie de banco, ao qual vamos remetendo, um por um, os cheques de nossas esperanças. Ora! Não é possível que todos os cheques sejam sem fundos...
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Ivete Brandalise: Mario, este homem que faz poema, que faz música com suas palavras. Que músicas foram incorporadas no seu patrimônio afetivo?
Quintana: Eu não gosto de música só com açúcar. Eu não gosto de música de ópera.
Ivete Brandalise: Por que não?
Quintana: Porque parece namoro de gato, não termina nunca e não deixa a gente dormir.
Ivete Brandalise: Que músicas fazem a tua cabeça?
Quintana: A 4ª sinfonia de Maller, pois ela é uma música angustiada e eu, como todos neste fim-de-século estamos angustiados. Gosto também de “Cânticos Peregrinos", de Wagner e a "Canção dos Barqueiros do Volga".
Ivete Brandalise: Tu falaste na angústia de Maller. Tu achas que a angústia ajuda a criar?
Quintana: A angústia ajuda a criar porque um poema sempre se faz num estado de inquietação, que não deixa de ser angústia. Embora não seja uma angústia de desespero, mas uma angústia que traz esperança.
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JB: Para o senhor qual o valor de um amigo? Um amigo será mesmo um anjo disfarçado de ser humano?
Quintana: Os chatos se dividem em duas categorias: os chatos propriamente ditos e os amigos, que são os nossos chatos prediletos...
JB: Seus poemas nos lembram o garoto sapeca que já fomos um dia, roubando doces das janelas.
Quintana: Doce só é bom mesmo quando é roubado.
quarta-feira, 9 de setembro de 2009
Um encontro com ele
- Para onde vai o senhor?
- Para o outro lado.
Um Passeio na Mata
Poeminha Sentimental
O meu amor, o meu amor, Maria
É como um fio telegráfico da estrada
Aonde vêm pousar as andorinhas...
De vez em quando chega uma
E canta
(Não sei se andorinhas cantam, mas vá lá!)
Canta e vai-se embora
Outra, nem isso,
Mal chega, vai-se embora,
A última que passou
Limitou-se a fazer cocô
No meu pobre fio da vida!
No entanto, Maria, o meu amor
É sempre o mesmo:
As andorinhas é que mudam.
Mario Quintana
sábado, 29 de agosto de 2009
Só se deve morrer de puro amor...
A casa fantasma
O ponto de interrogação
As bruxas de pano
As bruxas de pano
sábado, 15 de agosto de 2009
Nomes Feios
Início de mais uma madrugada. Mario chega à pensão em que morava, na Barros Cassal, perto da Avenida Independência, e é mal recebido pelos cachorros. Reage aos latidos com todos os palavrões disponíveis. Na calçada, os pintores Waldeny Elias e Gastão Hofstaetter, que passaram a noite bebendo com ele e vieram deixá-lo em casa, assistem à cena. Em meio à gritaria, abre-se a janela e surge a dona da pensão:
- Mas o que é isso, seu Mario! O senhor, um homem tão culto, dizendo essas barbaridades!
Ele se defende:
- É que a senhora não sabe os nomes que os seus cachorros estão me dizendo…
Canção Azul
Miosótis, disseste, inclinado um instante sobre ela.
E ela acabou de morrer, aos poucos, dentre a relva úmida.
Sem nunca ter sabido que se chamava miosótis.
Nem que iria impregnar, com seu triste encanto,
O teu poema daquele dia...
Mario Quintana
sexta-feira, 7 de agosto de 2009
Que crepúsculo fez hoje!
Mario Quintana
Mudança de Temperatura
Nos fios telegráficos pousaram uma, duas, três. Quatro andorinhas.
Olham de um lado e outro... Irão partir?
Sobre as cercas rasas do arrabalde, os girassóis espiam como girafas...
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sábado, 1 de agosto de 2009
Rua da Praia
Drummond tinha um humor poético que confessava e agredia.
Quintana confessava para justamente acalmar a briga.
Se Carlos Drummond mostrou a distorção pela multiplicidade psicológica,
Quintana procurava harmonizar e reunir os cacos da vidraça.
Drummond é desconfiado, de olhar oblíquo.
Quintana é debochado, de olhar confiante.
Drummond é longo como um vício.
Quintana é breve como uma virtude.
Drummond se mostrou engajado nas questões urbanas e urgentes de sua época. Quintana procurou não ser do seu tempo, e sim do seu lugar.
Drummond traz o sentimento de despoder biográfico.
Quintana se articula no sentimento de posse do eu, da vaidade generosa, que se reparte e não se economiza.
O primeiro duvida do espelho, o segundo duvida de quem se vê no espelho.
Drummond se ausentava do poema, tal velório.
Quintana não se ausentava do poema, tal festa de aniversário.
Se Drummond mostrou o embate entre Itabira, sua cidade natal, com as capitais que viveu, expressando a retração do homem simples e seu desconforto metafísico na metrópole,
Quintana achou sua cidade natal, Alegrete, em Porto Alegre. Ele desenterrou Alegrete na capital gaúcha, apresentando um recolhimento interior e apaziguador pelos becos e sobrados, pelas ruas ainda cicatrizando as linhas do bonde. Não houve conflito entre o alto e baixo, ruínas de ventre. Sua cidade residia nos esconderijos atemporais, nos desvãos, nas casas antigas. Porto Alegre bastou-lhe como uma maquete ancestral, um rascunho de mapa. Um impulso para recuar e se destrançar nos labirintos escuros.
Depoimento de Fabrício Carpinejar - poeta e jornalista
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segunda-feira, 27 de julho de 2009
O motivo da rosa
A rosa, bela Infanta das sete saias
e cuja estirpe não lhe rouba, entanto,
o ar de menina, o recatado encanto
da mais humilde de suas aias,
a rosa, essa presença feminina,
que é toda feita de perfume e alma,
que tanto excita como tanto acalma,
a rosa... é como estar junto da gente
um corpo cuja posse se demora
- brutal que o tenhas nesta mesma hora,
em sua virgindade inexperiente...
rosa, ó fiel promessa de ventura
em flor... rosa paciente, ardente, pura!
sexta-feira, 24 de julho de 2009
Hoje é outro dia
quarta-feira, 22 de julho de 2009
sábado, 18 de julho de 2009
sexta-feira, 17 de julho de 2009
OS NOMES
O poeta dedicou-lhe um poema:
Tão Linda e Serena e Bela
quarta-feira, 15 de julho de 2009
Vales
Na época em que trabalhava na Editora Globo ele andava sempre duro. O salário terminava bem antes do fim do mês, vivia pedindo vales de adiantamento. Em determinado dia, o caixa chiou:
- Mas seu Mario, o senhor já tem um monte de vales!
Quis saber, com aquele sorriso maroto:
- Afinal, são vales ou são montes?
Do livro “Ora Bolas – O humor cotidiano de Mario Quintana” de Juarez Fonseca
Um velho tema
Mario Quintana
Um poço de ternura
Armindo Trevisan, poeta gaúcho, fala sobre o amigo Mario Quintana
Um encontro com ele
Foto tirada em Buenos Aires, eu peguei do blog do Fabio Rocha (http://dabusca.blogspot.com)
Os argentinos fizeram uma homenagem a Mario Quintana, dando o seu nome a uma ponte.
sábado, 11 de julho de 2009
Quintana por ele mesmo...
O texto abaixo foi escrito pelo poeta para a revista Isto É de 14/11/1984
Nasci em Alegrete, em 30 de julho de 1906. Creio que foi a principal coisa que me aconteceu. E agora pedem-me que fale sobre mim mesmo. Bem! eu sempre achei que toda confissão não transfigurada pela arte é indecente.
quinta-feira, 9 de julho de 2009
Os Poemas
Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto;
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...
Mario Quintana