sábado, 26 de setembro de 2009

Alguns trechos de entrevistas com Mario Quintana.



Cristina Serra: Por que você gosta tanto de escrever à noite?
Quintana: Sou um lobisomem da poesia. Escrevo de meia-noite em diante, até às três ou quatro horas. Às vezes, a poesia vem nas ocasiões mais impróprias e eu tomo nota do relâmpago num papelzinho; outras vezes, me esqueço pelo caminho. Se eu não esqueço, escrevo à noite, no silêncio. À noite, a gente só é visitado por fantasmas e eles são silenciosos...

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Patrícia Bins: O futuro, como o imaginas?
Quintana: O futuro é uma espécie de banco, ao qual vamos remetendo, um por um, os cheques de nossas esperanças. Ora! Não é possível que todos os cheques sejam sem fundos...

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Ivete Brandalise: Mario, este homem que faz poema, que faz música com suas palavras. Que músicas foram incorporadas no seu patrimônio afetivo?
Quintana: Eu não gosto de música só com açúcar. Eu não gosto de música de ópera.

Ivete Brandalise: Por que não?
Quintana: Porque parece namoro de gato, não termina nunca e não deixa a gente dormir.

Ivete Brandalise: Que músicas fazem a tua cabeça?
Quintana: A 4ª sinfonia de Maller, pois ela é uma música angustiada e eu, como todos neste fim-de-século estamos angustiados. Gosto também de “Cânticos Peregrinos", de Wagner e a "Canção dos Barqueiros do Volga".

Ivete Brandalise: Tu falaste na angústia de Maller. Tu achas que a angústia ajuda a criar?
Quintana: A angústia ajuda a criar porque um poema sempre se faz num estado de inquietação, que não deixa de ser angústia. Embora não seja uma angústia de desespero, mas uma angústia que traz esperança.

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JB: Para o senhor qual o valor de um amigo? Um amigo será mesmo um anjo disfarçado de ser humano?
Quintana: Os chatos se dividem em duas categorias: os chatos propriamente ditos e os amigos, que são os nossos chatos prediletos...

JB: Seus poemas nos lembram o garoto sapeca que já fomos um dia, roubando doces das janelas.
Quintana: Doce só é bom mesmo quando é roub
ado.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Um encontro com ele


Foi no meio da rua. Uma parada. Um abraço. O outro perguntou-lhe:
- Para onde vai o senhor?
- Para o outro lado.


Mario Quintana



Foto: Foto copiada do blog de Fábio Rocha - Uma homenagem dos argentinos ao Poeta.

Um Passeio na Mata


Ouço, num primitivo espanto, os gritos mais insólitos. Não sei o nome de nenhum desses pássaros, de nenhuma dessas árvores. Olho, agora, esta flor: apenas sei que é amarela. Meu pensamento, ou seja lá o que for, é simplesmente composto de adjetivos, como nos primeiros dias da Criação.

Mario Quintana (Caderno H)

Poeminha Sentimental



O meu amor, o meu amor, Maria
É como um fio telegráfico da estrada
Aonde vêm pousar as andorinhas...
De vez em quando chega uma
E canta
(Não sei se andorinhas cantam, mas vá lá!)
Canta e vai-se embora
Outra, nem isso,
Mal chega, vai-se embora,
A última que passou
Limitou-se a fazer cocô
No meu pobre fio da vida!
No entanto, Maria, o meu amor
É sempre o mesmo:
As andorinhas é que mudam.

Mario Quintana