sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Esperança



Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E
— ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança...
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
— O meu nome é ESPERANÇA...

Mario Quintana


Desejando um 2013 cheio de Esperança para todos os seguidores de Quintana...

...

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Tempo perdido


Havia um tempo de cadeiras na calçada. Era um tempo em que havia mais estrelas. Tempo em que as crianças brincavam sob a claraboia da lua. E o cachorro era um grande personagem. E também no relógio de parede. Ele não media o tempo simplesmente: ele meditava o tempo.

Mario Quintana

(Cadernos de Literatura Brasileira - Instituto Moreira Salles)

................................


sexta-feira, 9 de novembro de 2012

LIÇÃO DE HUMILDADE E GRANDEZA



Quando Mario Quintana foi despejado do Hotel Majestic, no centro de Porto Alegre, por falta de pagamento, porque o jornal Correio do Povo, onde trabalhava, tinha fechado suas atividades, Falcão, jogador da seleção e comentarista esportivo, cedeu um dos quartos do Hotel Royal, de sua propriedade ( belo gesto). Quando uma amiga o visitou, achou o quarto pequeno. Quintana mostrou sua grandeza, dizendo: “Eu moro em mim mesmo. Não faz mal que o quarto seja pequeno. É bom, assim tenho menos lugares para perder as minhas coisas.”

...........................................................

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Encontro



Subitamente na esquina do poema, 
duas rimas olham-se atônitas, comovidas, 
como duas irmãs desconhecidas..."

Mario Quintana


.......................

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Quintana em reedição



Depois de anos publicada pela editora Globo, sua obra volta agora às livrarias sob a chancela da Alfaguara e com a curadoria de Italo Moriconi. A primeira fornada traz três volumes - Canções, que inclui também A Rua dos Cataventos e Sapato Florido, além de dois títulos que consolidaram a popularidade de Quintana: Apontamentos de História Sobrenatural, obra considerada crucial em sua carreira, e A Vaca e o Hipogrifo, em que o poeta exerce a função de cronista.
Até o final do ano, sairão mais quatro títulos e, em 2014, será finalizada a reedição de 17 obras, incluindo duas antologias inéditas:Quintana Essencial, organizada por Moriconi, e Poemas Para Ler na Escola, com seleção de Regina Zilberman.
Leia mais AQUI.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Viração



Voa um par de andorinhas, fazendo verão. E vem uma vontade de rasgar velhas cartas, velhos poemas, velhas contas recebidas. Vontade de mudar de camisa, por fora e por dentro... Vontade... para que esse pudor de certas palavras?... vontade de amar, simplesmente. 


Mario Quintana

sábado, 30 de junho de 2012

O Batalhão das Letras (M, N, O, P)


M
Com M se escreve MÃO.
E agora vê que engraçado:
Na palma da tua mão
Tens um M desenhado

N
N é a letra dos teimosos,
Da gente sem coração:
Com N se escreve - NUNCA!
Com N se escreve - NÃO



O
Outras letras dizem tudo.
Mas o O nos desconcerta.
Parece meio abobalhado:
Sempre está de boca aberta...

P
Quem diz que ama a POESIA
E não a sabe fazer
É apenas um POETA inédito
Que se esqueceu de escrever...


Mario Quintana

Ilustrações de Rosinha
.............................

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Estréia

O poeta só estreou na literatura com 34 anos, lançando “A Rua dos Cataventos”, em 1940. O livro se opunha ao experimentalismo modernista, recuperando o soneto tradicional. Sua originalidade temática e qualidade técnica, entretanto, fizeram sucesso popular e de crítica.
Mario Quintana publicaria 20 livros individuais de poesia e pequenos poemas em prosa, além de diversas antologias. Escreveu para adultos e crianças com igual excelência lingüística. O longo poema infantil Pé de Pilão e os sonetos de A Rua dos Cataventos se estabeleceram como leituras essenciais da poesia brasileira do século XX. ....................

quarta-feira, 14 de março de 2012

O dia abriu seu pára-sol bordado



O dia abriu seu pára-sol bordado
de nuvens e de verde ramaria.
E estava até um fumo, que subia,
mi-nu-ci-o-sa-men-te desenhado.
-
Depois surgiu, no céu arqueado,
a Lua – a Lua! – em pleno meio-dia.
Na rua, um menininho que seguia
parou, ficou a olhá-lo admirado…
-
Pus meus sapatos na janela alta,
sobre o rebordo… Céu é que lhes falta
pra suportarem a existência rude!
-
E eles sonham, imóveis, deslumbrados,
que são dois velhos barcos, encalhados
sobre a margem tranquila de um açude…


Mario Quintana

...............