sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Primeira linha


Ele não está simplesmente na primeira linha dos poetas brasileiros: na verdade, Mario Quintana assume uma posição que bem poucos dessa primeira linha conseguiram assumir. Lido com igual carinho pelos que começam hoje a fazer literatura como por escritores já inteiramente consagrados do País, ele é também um nome popular, um artista que sensibiliza o público e o vai tornando cada vez mais amigo da poesia. Ao longo dos anos, mesmo não lutando por isso, Quintana fez-se poeta de aceitação unânime: nós todos aprendemos a ver na obra dele - essa obra tão sutil e tão hábil como idéia e como forma - uma síntese feliz de domínio artístico e de lúcida apreensão da existência.


Prefácio do livro de Mario Quintana: Nova Antologia Poética da Editora Globo
3ª Edição - 1985

AS COVAS




O bicho,
Quando quer fugir dos outros,
Faz um buraco na terra.

O homem,
Para fugir de si,
Fez um buraco no céu.



Mario Quintana - Nova Antologia Poética

OS GATOS, AS ADOLESCENTES, OS ÁLAMOS




Os gatos, as adolescentes, os álamos
Compensam a feia rigidez do mundo
Porque tudo quanto é mecânico é rígido
- mesmo que seja um automóvel desobedecendo a todos os sinais de tráfego.
E só nos resta, agora, olhar o vôo de uma ave...
(Se ainda sobrou alguma.)


Mario Quintana - A Cor do Invisível

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

O estranho caso de Mister Wong


Além do controlado Dr. Jekill e do desrecalcado Mister Hyde, há também um chinês dentro de nós: Mister Wong. Nem bom nem mau: gratuito. Entremos, por exemplo, neste teatro. Tomemos este camarote. Pois bem, enquanto o Dr. Jekill, muito compenetrado, é todo ouvidos, e Mister Hyde arrisca um olho e a alma no decote da senhora vizinha, o nosso Mister Wong, descansadamente, põe-se a contar carecas na platéia...
Outros exemplos? Procure-os o senhor em si mesmo, agora mesmo. Não perca tempo. Cultive o seu Mister Wong!


Mario Quintana