sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Canção do dia de sempre




Tão bom viver dia a dia...
A vida, assim, jamais cansa...

Viver tão só de momentos
Como essas nuvens do céu...

E só ganhar, toda a vida,
Inexperiência... esperança...

E a rosa louca dos ventos
Presa à copa do chapéu.

Nunca dês um nome a um rio:
Sempre é outro rio a passar.

Nada jamais continua,
Tudo vai recomeçar!....

E sem nenhuma lembrança

Das outras vezes perdidas,

Atiro a rosa do sonho

Nas tuas mãos distraídas...



Mario Quintana

Alma Errada


Há coisas que a minha alma, já tão mortificada, não admite:

assistir novelas de TV

ouvir música POP

um filme apenas de corridas de automóvel

uma corrida de automóvel num filme

um livro de páginas ligadas

porque, sendo bom, a gente abre sofregamente a dedo:

espátulas não há... e quem é que hoje faz questão de virgindades...

E quando minha alma estraçalhada a todo instante pelos telefones

fugir desesperada

me deixarás aqui,

ouvindo o que todos ouvem, bebendo o que todos bebem,

comendo o que todos comem.

A estes, a falta de alma não incomoda. (Desconfio até que minha pobre alma

fora destinada ao habitante de outro mundo).

E ligarei o rádio a todo volume,

Gritarei como um possesso nas partidas de futebol,

Seguirei, irresistivelmente, o desfilar das grandes paradas do Exército.

E apenas sentirei, uma vez que outra,

a vaga nostalgia de não sei que mundo perdido...



Mario Quintana

Ah! É?


Acabo de ler, num artigo de jornal, que pertenço à “antiga geração”. Deve ser por isso mesmo que me sinto tão arejado como um velho casarão de vidraças partidas.


Mario Quintana (Porta Giratória)