sábado, 1 de agosto de 2009

Rua da Praia

Homenagem a Quintana junto a Carlos Drummond de Andrade na rua da Praia em Porto Alegre.


Drummond tinha um humor poético que confessava e agredia.
Quintana confessava para justamente acalmar a briga.

Se Carlos Drummond mostrou a distorção pela multiplicidade psicológica,
Quintana procurava harmonizar e reunir os cacos da vidraça.

Drummond é desconfiado, de olhar oblíquo.
Quintana é debochado, de olhar confiante.

Drummond é longo como um vício.
Quintana é breve como uma virtude.

Drummond se mostrou engajado nas questões urbanas e urgentes de sua época. Quintana procurou não ser do seu tempo, e sim do seu lugar.

Drummond traz o sentimento de despoder biográfico.
Quintana se articula no sentimento de posse do eu, da vaidade generosa, que se reparte e não se economiza.
O primeiro duvida do espelho, o segundo duvida de quem se vê no espelho.

Drummond se ausentava do poema, tal velório.
Quintana não se ausentava do poema, tal festa de aniversário.

Se Drummond mostrou o embate entre Itabira, sua cidade natal, com as capitais que viveu, expressando a retração do homem simples e seu desconforto metafísico na metrópole,
Quintana achou sua cidade natal, Alegrete, em Porto Alegre. Ele desenterrou Alegrete na capital gaúcha, apresentando um recolhimento interior e apaziguador pelos becos e sobrados, pelas ruas ainda cicatrizando as linhas do bonde. Não houve conflito entre o alto e baixo, ruínas de ventre. Sua cidade residia nos esconderijos atemporais, nos desvãos, nas casas antigas. Porto Alegre bastou-lhe como uma maquete ancestral, um rascunho de mapa. Um impulso para recuar e se destrançar nos labirintos escuros.

Depoimento de Fabrício Carpinejar - poeta e jornalista
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